domingo, 15 de dezembro de 2013

Resiliência, horas extras e adoecimento no trabalho

Boa tarde!!!!
Conforme prometido, a postagem de hoje será sobre a resiliência no mundo do trabalho. Esse é um tema muito recorrente em publicações de Psicologia e outras ciências relacionadas ao contexto organizacional. De forma bem genérica, a resiliência é um contexto retirado da Física, que se refere à capacidade de modificação de um material devido às pressões do ambiente. No mundo do trabalho, a resiliência é uma competência muito importante, atrelada à flexibilidade do profissional ao lidar com as pressões e desafios organizacionais de forma a não alterar sua estrutura principal, ou sendo ainda mais genérica, de forma positiva. Para quem se interessou pelo tema e suas implicações, vale a pena ler um artigo de minha autoria e das psicólogas Carolina Antonelli e Beatriz Mattos sobre Resiliência no contexto de trabalho enquanto promotora do bem estar ou do adoecimento.
Hoje assisti um curta metragem muito bom sobre um dos contextos mais difíceis na vida do profissional, que é a busca de uma nova oportunidade após a maturidade e após muitos anos de carreira. A grande mensagem que esse vídeo me deixou foi que, após um grande período de dedicação a uma empresa ou a sua carreira, nem sempre se tem a sensação de dever cumprido e que nem sempre conseguimos construir espaços para refletir se nossos esforços e ações no trabalho realmente produziram algum sentido e significado para nossas vidas. No fim das contas, será que tudo "valeu a pena?"
Como muitos outros conceitos que se dissiparam muito rapidamente no contexto organizacional, o conceito de resiliência acabou virando um grande modismo e tem sido utilizada como justificativa para auto-sabotagens profissionais e para a exploração do trabalho através da justificativa de que é necessário que o trabalhador seja resiliente. No primeiro caso, podemos citar como exemplos aqueles profissionais que aceitam quaisquer demandas de trabalho, ainda que não concordem ou não vejam nenhum sentido em determinadas solicitações ou tarefas, profissionais que acreditam que a realização de horas extras com grande frequência é comum e não passa de uma atitude resiliente tendo em vista as demandas de um mercado cada vez mais competitivo. No segundo caso, podemos citar os exemplos de exigências por parte das empresas que o trabalhador seja polivalente, trabalhe cada vez mais sob pressão, que tenha flexibilidade para atuar em quaisquer contextos, que seja automotivado, que seja ambicioso e agressivo em relação a metas, mas pacífico e que saiba somar à sua equipe. Que seja um líder nato e tenha independência para tomar decisões, mas, ao mesmo tempo, que saiba respeitar regras e os procedimentos altamente burocráticos da empresa. Em muitos casos, pede-se que os colaboradores resolvam problemas profundos da cultura organizacional, esquecendo-se que os comportamentos provém de apenas um ser humano, com um repertório coerente e generalizado, bem como que os comportamentos sempre ocorrem num contexto, que deve facilitar (reforçadores) ou inibir determinados repertórios.

Em ambas situações, pode-se dizer que a resiliência promove o adoecimento psíquico, podendo culminar no adoecimento físico e em rupturas permanentes à estrutura psicológica do indivíduo. O grande equívoco dessas asserções é que um indivíduo não pode ser resiliente ou simplesmente não ser. A resiliência é uma competência e, como tal, deve ser utilizada para resolver determinadas demandas e não ser utilizadas em contextos não apropriados. Por ser repertório, funciona como uma ferramenta. O uso do martelo é altamente eficiente para pregar um quadro na parede, mas não faz o menor sentido usar um martelo para apertar um parafuso, nem usar um martelo gigante para um prego pequeno. Dessa forma, a resiliência é algo de que o indivíduo se utiliza para gerar resultados valiosos para si e para a organização, desde que haja condições (contexto) apropriadas para isso.
Em se tratando do indivíduo, vale a pena retomar constantemente a reflexão sobre as atitudes que se acreditam serem exemplos de resiliência ou flexibilidade: "Até hoje, valeu a pena?" Se sim, realmente se tem utilizado bem uma competência, se não, tem-se contribuído para seu próprio desgaste ou adoecimento.
Espero que tenham gostado da postagem!
Até a próxima e uma ótima semana!

Nenhum comentário:

Postar um comentário